AO LER NA FILA DO PÃO

Angelina Ribeiro • 9 de maio de 2020

Resenha:Angelina Ribeiro - Professor de Rede Pública de Ensino de Cascavel-CE e Escritora.
Correão:Francisca Rosilene de Souza-Pedagoga, Especialista em Educação, Professora de línguas Português e Inglesa.

Ao ler, NA FILA DO PÃO, de Antonio Scurati, escritor italiano, vi e senti as cenas que descreveu muito bem. 
Senti o cheiro do pão, do mijo do cão. Senti o medo acelerando os corações de crianças, de jovens e velhos. Senti a nostalgia das noites regadas a bons vinhos e conversas jogadas fora. Senti a incerteza diante da certeza atual " na fila do pão ". Senti e vi os olhos arregalados, vendo, pela janela, uma cena nunca imaginada antes.  
Pela janela, vi os olhos vertendo lágrimas, devagar como uma torneira quebrada, pingando, pingando, pingando e, aos poucos, enchendo a pia, esbarrotando, transbordando de lágrimas. Lágrimas não só dele. Esse homem representa milhões de outros.
 
O que dizer?
E o que fazer?
Palavras, lembranças.
" ir para fila do pão?
Escrever, brincar, ler, dançar, exercitar-se, refletir sobre o que significa " VIVER" em tempo surreal, mas tão real que é difícil de acreditar!

FICAR EM CASA! Só sair para a " fila do pão ".
As joias, riquezas materiais, não são o suficiente para suprir o que precisamos hoje. E se pensarmos no "tempo". Será que perdemos tempo acumulando riquezas, roupas caras de grifes famosas, jantares em restaurantes luxuosos, passeios em iates, comendo sanduíches com fios de ouro? E agora nos resta entrar " na fila do pão "! 

Quando Joseph Conrad, no início do século passado, convencia a esposa que, olhando pela janela, estava trabalhando e Antonio Scurati, em 2020, pensa em explicar para a filha, olhando pela janela, que estamos no fim de uma era, eu penso, olhando pela janela: é o início de uma nova era. Sinos tocam avisando que há mais mortos. Viaturas de polícia fiscalizam as pessoas para não saírem à rua. Todos estamos em um mesmo mar, mas em barcos diferentes. A dor é a mesma, a solidão faz morada em todos os corações. Mas não podemos dizer que alguém que tem estabilidade financeira está no mesmo barco que um desempregado. Neste momento de PANDEMIA, vemos a união e a colaboração de muitos, mas vemos a desonestidade reinando em muitos setores da sociedade. 

Quando tudo isso acabar, sairemos melhores ou piores. Organizaremos festas e nos encontraremos, não para esbanjar posses, carros do ano, mas para um simples ato: " nos abraçar "!!!!



O fim de uma era. A cidade mais privilegiada de Itália está na fila para o pão. A partir de Milão, onde vive e está isolado, o escritor italiano Antonio Scurati escreve o que vê da janela da sua casa.

Como posso convencer a minha mulher de que, enquanto olho pela janela, estou a trabalhar? — perguntava-se Joseph Conrad no início do século passado.
Eu, em vez disso, pergunto-me: como posso explicar à minha filha que, quando olho pela janela, vejo o fim de uma era?
A era em que ela nasceu, mas que não conhecerá, a era do mais longo e distraído período de paz e prosperidade desfrutado na história da Humanidade.
Vivo em Milão, até ontem a mais evoluída, rica e brilhante cidade de Itália, uma das mais desejadas do mundo. A cidade da moda, do design, da Expo.
A cidade do aperitivo, que deu ao mundo o Negroni Sbagliato e a happy hour e que hoje é a capital mundial do Covid-19, a capital da região que, sozinha, soma trinta mil contágios confirmados e três mil mortos.
Uma taxa de mortalidade de 10 por cento, os caixões empilhados à frente dos pavilhões dos hospitais, uma pestilência vaporosa que paira sobre as torres da sua catedral como sobre as cidades amaldiçoadas das antigas tragédias gregas.
As sirenes das ambulâncias tornaram-se a banda sonora dos nossos dias; as nossas noites são atormentadas por homens adultos que choramingam no sono:
“O que é, sentes-te bem?”.
“Nada, não é nada, volta a dormir”.
Milhares de amigos, parentes e conhecidos tossem até cuspir sangue, sozinhos, fora de todas as estatísticas e sem qualquer assistência, nas camas dos seus estúdios decorados por arquitetos de renome.
Se, neste momento, olhar pela janela, vejo uma pobre loja de conveniência gerida com admirável diligência por imigrantes cingaleses.
Até ontem, era uma singular anomalia neste bairro semicentral e, ao seu modo elegante, uma nota dissonante.
Hoje é um lugar de peregrinação. Na fila para o pão em frente às suas vitrinas despidas, vejo homens e mulheres que até ontem o desdenhavam por não ter a sua marca preferida de farinha.
Ficam, apoiados pela disciplina do desânimo, a um metro de distância uns dos outros, ao mesmo tempo ameaçadores e ameaçados, com máscaras improvisadas, feitas de pedaços de tecido com os quais, até ontem, protegiam as plantas exóticas do seu roof garden, gazes desfiadas penduradas nos seus rostos com a melancolia mole dos restos de uma era acabada.
Vejo estes homens e estas mulheres tristes, incongruentes consigo mesmos.
Olho-os. Não tenho nenhuma intenção de os diminuir ou de troçar deles.
São homens e mulheres adultos, contudo por cima das máscaras mostram o olhar assustado das crianças carentes.
Chegaram totalmente despreparados ao seu encontro com a história e, no entanto, precisamente por este motivo, são homens e mulheres corajosos.
Fizeram parte do pedaço mais abastado, protegido, longevo, bem vestido, nutrido e cuidado da Humanidade a pisar a face da Terra e, agora, na casa dos cinquenta, estão na fila do pão.
A sua aprendizagem na vida foi uma longa aprendizagem da irrealidade televisiva.
Tinham vinte anos quando assistiram, a partir das suas salas de estar, à primeira guerra da história humana ao vivo na televisão, trinta quando foram alvejados através dos televisores pelo terror midiático, quarenta quando a odisseia dos condenados da terra aterrou nas praias das suas férias.
Todos encontros fatídicos que não poderiam perder. As grandes cenas da sua existência foram consumidas em eventos midiáticos, foram guerreiros de sala, banhistas nas praias dos migrantes, veteranos traumatizados pelas noites passadas em frente à televisão. E agora estão na fila do pão.
A sua infância foi uma mangá japonesa, a sua juventude uma festa de piscina — lembram-se? Era sábado à noite e íamos a uma festa; era sempre sábado à noite e íamos sempre a uma festa —, a sua idade adulta é um tributo a uma trindade insossa e feroz: o frenesi do trabalho, os verões na praia, o sublime do spa.
Viveram bem, melhor do que qualquer outra pessoa, mas quanto mais viviam, mais inexperientes eram na vida: nunca conheceram o terror da guerra, nunca foram tocados pelo sentimento trágico da existência, nunca viveram uma questão sobre o seu lugar no universo.
E agora, aos cinquenta anos, com os cabelos já brancos, o abdómen prolapso e a ânsia que lhes incomoda os pulmões, estão na fila do pão.
Turistas compulsivos, correram o mundo sem nunca sair de casa e agora a sua casa marca para eles os limites do mundo; sofreram quase só dramas interiores e agora o drama da história catapulta-os para a linha de fogo de uma pandemia global; têm uma casa na praia e um carro de última geração, mas agora estão na fila do pão; tiveram mais cães do que filhos e agora arriscam as suas vidas para levar o seu caniche a mijar.
Olho-os da janela do meu estúdio enquanto escrevo.
Observo-os enquanto o número de mortes sobe para quatro mil, enquanto o contágio cresce exponencialmente, enquanto sustenho a respiração para não inalar o ar do tempo.
Olho-os e compadeço-me deles porque foram a geração mais sortuda da história humana, mas, depois, tocou-lhes viver o fim do seu mundo justamente quando começaram a ficar demasiado velhos para esperar um mundo vindouro.
Porém, terão de o fazer. E o farão, estou seguro. Vão ter de imaginar o mundo que têm sido obrigados a experimentar nestes dias: um mundo que se questiona sobre como educar os próprios filhos, sobre como preservar um ar respirável, sobre como cuidar de si e dos outros.
Uma era acabou, outra começará.
Amanhã.
Hoje estamos na fila para o pão. Hoje os jornais titulam: "resiste, Milão!" E Milão resiste.
Lanço um último olhar pela janela sobre os meus contemporâneos dos cinquenta anos, os meus concidadãos milaneses, os meus rapazes repentinamente envelhecidos: como são grandes e patéticos com os seus ténis de corrida e as suas máscaras cirúrgicas.
Tenho piedade, compreendo-os, compadeço-me deles. Dentro de alguns segundos estarei na fila junto deles.

#Antonio Scurati é prof. de Linguística e Comunicação na Universidade de Milão. Com o livro "M - O filho do século", Scurat ganhou o Prêmio Strega, o mais importante da literatura italiana. O texto acima é da publicação portuguesa observador.pt, para assinantes.

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